sábado, 3 de abril de 2010

49

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As quentes noites junto de Nemoir foram incomuns para ela, principalmente nas duas primeiras noites. A primeira em que Nemoir encontrou-o na festa; quando foram para o bem bom, ele chamou-a de Marili, e quando estava quase a chegar no orgasmo, em que ela estava excitadíssima para chegar, ele novamente disse o nome, que a desestimulou um pouco.
Como estava bêbado, ela tinha se aproveitado dele e forçá-lo a ficar com ela, pois sabia que dragões eram orgulhosos. Mesmo que ele tivesse terminado com essa tal Marili, por exemplo, na mesma noite, ela continuaria com ele. Talvez isso tivesse influência de seu amigo que também estava na festa. Mas que posso fazer, eu sou autor, não sou adivinho! Apenas danço com palavras. Sigo o ritmo.
A segunda noite foi estranha pois, mesmo com toda sua fantasia, que Nemoir quis fazer, por ele, pois era seu jeito de dizer "eu te amo", eledormiu direto, sem o abraço que já tinha feito na primeira noite, ficando, assim, na posição cara-a-cara, onde um respira o que o outro respira. Ainda é um pouco romântico, ele não tinha bafo, ela também não, não era desagradável. Mas não era tão romântico quanto antes...
Nemoir, por dez noites, ainda quis dormir abraçada como na primeira noite. Depois esqueceu disso.

48

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Já estando na festa, mais ou menos às sete horas da noite, instalou-se num canto fresco perto do mini-bar, para beber. Não sabia o limíte de seu fígado em relação ao álcool, mas de beber, bebeu até cansar. Isso porque seu inconsciente ainda estava nos efeitos melancólicos colaterais de abstinência de seu amor.
Se estivesse lúcido, diria para si mesmo: "que fracassado me tornei, não posso ficar um dia sem alguém junto de mim, ainda por cima vim para uma festa de encontro às cegas, é deplorável, está decidido, não vou conhecer ninguém hoje".
Porém, isso tudo se estivesse lúcido e com seu orgulho liderando.
Desse momento para a frente, não lembra de mais nada, e acorda com Nemoir em seus braços, esta sussurrando: "meu amor, meu amor, finalmente te achei...", enquanto dormia e deixava cair uma lágrima rolando pelo rosto. Como que por instinto, secou-lhe a lágrima e ela acordou, uma tigresa de rosto dócil e amável até demais. Achou uma graça que ela falasse dormindo, mesmo esquecendo das palavras sonolentas quando uma dor de cabeça lhe passou pela cabeça. Era ressaca. Ele não sabia, mas havia acabado de conseguir o ponto fora do esquema.

47

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Um dia Celista deixou Reno, sem dar explicações. Isso abalou muito o pobre coitado. Pobre porque não tinha nem Marili nem Celista. Coitado pois nem ter um motivo de si mesmo tinha.
Imaginou sem vontade que tem algumas pessoas que tem o privilégio de não passar por um triângulo amoroso e começou a criar ciúmes destas pessoas. Queria ter ficado sem o triângulo. Queria ter o ponto, ou seja, a alma gêmea.
Existem cinco tipos básicos de romances.
O ponto, como já citado, corresponde ao casal verdadeiro, que tem olhos apenas para seu parceiro ou parceira. É raro acontecer, mas não se para de se ouvir essas histórias.
Existe a reta amorosa, no qual uma pessoa é o centro de amores - ou seja, a linha - entre outras duas - as extremidades.
Tem o triângulo amoroso, no qual ainda há três pessoas, mas uma ama fulano sem amar cicrano que ama fulano, ou cada uma ama as duas.
Existe o quadrado, em que ocorre o mesmo que o triângulo amoroso, apenas o fato de que são quatro pessoas.
No retângulo, há variações, pois o amor pode ser como o quadrado, exceto que pode-se cruzar o retângulo usando uma linha.
E adiante há umas quantas variações em polígonos amorosos que não irei explicar por ser ternamente desnecessário e por cansaço.
Mas qual o porquê de estar explicando todos os conjuntos? Por que todo e qualquer polígono não tem sentido algum se houver um número a mais, um resto, uma sobra, para fora do mesmo.
Este resto é o que Reno procura, é aquele algo que está fora do padrão.
E com o que acabo de vos ensinar, percebe-se que esse ponto fora do conjunto tem duas consequências: levá-lo daquele conjunto para criar uma linha, onde ele não é a linha, mas sim a extremidade; ou o ponto sobrando entra para aquele esquema.
Ele sai então para uma suposta caminhada. Encontra no caminho um antigo amigo, Micenis, e começam a conversar. A aparência de Micenis era simplória, podia-se confundí-lo com qualquer outro, se não tivesse um diploma de psiquiatria e óculos pequenos para sua vista levemente fraca.
Micenis comenta que ultimamente achou uma agência, uma entidade, que prepara festas para aproximar casais de todos povos, e que ia acontecer, convenientemente, naquela mesma noite, nos extremos da tribo dragão.
- E por que é feito tão longe?
- Longe para a gente, perto para eles, que organizam tudo. Toda vez que vou lá encontro uma maravilha de "Denas", como você dizia. Uma vez dormi com três na mesma noite! É muito bom! Ei, você ainda gosta de estrangeiras? Lembro que você só ficava com elas. Vai estar cheio de gente de todos os povos.
- Então, de todos os tipo, né...
E seguiram conversando. Pouco depois ambos se despediram, com abraços saudosos.
Micenis tinha mudado de cidade, não muito longe, mas em uma distância considerável, faz uma ano. Pela conversa, Reno descobriu que ele mudou de sotaque e agora era mais falante. Sabe, o dialeto de um psicólogo que mora na capital. Em tempos anteriores, ele era mal humorado e quieto, apenas com Reno simpatizou por sua maneira de respeitar as mulheres. Enquanto Reno conquista pelo romance, Micenis age como se fosse um bichinho dócil e frágil delas; uma hora ou outra, acaba conquistando sua confiança. Era muito útil quando ele namorava com elas, mas agora deu pra ficar com boas noites de sexo, não dá para se dizer se mudou ou não.
Reno ficou contente com o reencontro, e com a informação de que ele poderia encontrar aquele ponto à parte para se separar enfim do conjunto.
Voltou para casa e pensou em viajar para lá, naquela festa para lá do fim do mundo!
Arrumou os suprimentos necessários, trancou a casa e foi-se, voando.
Quatro horas voando realmente não lucraram. Chegou ao destino, mas ainda teve de andar em procura de informações para saber do local. Cada vez que andava, via mais gente estrangeira por ali.

46

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Não vou falar quem foram suas Denas anteriores. Meu motivo é a coisa mais miserável e óbvia do mundo.
Amo minhas personagens. Admito e tenho orgulho em poder contar essa história. Acho, até, que não mereço. Mas alguém precisa fazer isso.
Meus padrões de afeição a todos eles se mantém por causa do fator existência. Se existem, escrevo sobre eles. Se escrevo, logo existem.
É a ponte de relacionamento que me impede de derrubá-la - não que eu queira.
É uma ponte escura e longa, quase impossível de atravessar. Mas, de uma ponta à outra, existe um telefone e uma linha, que me traz as notícias.

45

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Se um sonho nada mais é que uma lembrança, do que aconteceu no dia, por que Reno não sonha mais desde que foi seduzido por Celista?
Por baixa auto-estima? Por alta ansiedade de encontrar Marili? Por ter orgulho?
Não. Nenhum dos citados acima podem fazer uma pessoa "parar de sonhar". O motivo foi: suas ações.
Se não há alguma ação em tal dia, não terá nada de extraordinário para lembrar na manhã seguinte.
Mas, se um sonho é apenas uma lembrança, então o momento em que acontece o sonho está um momento para frente no tempo, pois é uma "lembrança".
Isso significa que a mente sempre está um momento à frente, e disso se pode deduzir que a ação acontece depois do pensamento. Mas se a ação age dessa forma, como explicar quando agimos sem pensar?
Até onde sabemos, a mente sempre pensa, mesmo inconscientemente. Não seria "não pensar" e sim "pensar depois".
Isso foi o que causou a sedução feita por Celista. O que é sedução senão instigar o prazer carnal? É apenas um punhado de ações atraentes. Atraentes e atrativas.
O que faz uma pessoa atraente? Sensualidade, ou o senso de desejo? E o que faz uma pessoa atrativa? Carisma ou beleza?
Pois que ambas as irmãs são atraentes e atrativas. Celista tem sua ardente sensualidade e seu carisma envolvente, mesmo não achando ser assim.
Marili, por sua vez, tem senso de desejo impassível e domador, e sua beleza indiscreta (que acha não ser tão grande assim).
E por que apenas duas qualidades? Se Marili tivesse 3 ele largaria de imediato Celista. Se Marili fosse melhor que Celista no fator de atração e atratividade...
Esse fator afetaria diferentemente Reno se não fosse pelo seu romantismo e sua afeição a Denas. Porque para ele, todas são igualmente amáveis e mesmo Celista mereceria seu amor.
Na turva realidade, cada uma delas iria querer a ser a única a merecer seu amor (salvo aquelas que muito evidentemente querem apenas sexo), e para ele isso era quase uma lei, pois seu único interesse é o bem estar do próximo.
Mas com Celista era tão inconsolavelmente e tão somente a verdadeira realidade - não a turva - na qual ele não mais pode ver. Uma realidade em que suas Denas apenas queriam estar juntos a um corpo amigável e confiável.

44

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Vamos relatar novamente as relações entre as personagens que amo tanto:
Reno ama Marili. Marili ama Reno. Celista não gosta de Marili. Marili tem ódio de Celista. Nemoir ama Reno. Reno não ama e até rejeita Nemoir. Celista usou Reno como seu escravo sexual. Reno usa Nemoir para descarregar seus desejos internos. Wenihér pensa que Marili é sua mãe, atualmente não pensa assim. Marili acha que Wenihér é que nem ela, uma solitária. Lema é amiga de Marili. Celista não conhece Lema nem Nemoir nem Wenihér. Reno não conhece Nemoir nem Celista direito, apenas acha que são obstáculos até chegar a Marili. Reno não sabe da existência de Wenihér. Marili ouviu falar de Ishiko e seu treinamento e Lema também. Ishiko nem tá metida na história. Tente se lembrar para poder ler.

43

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No momento que Nemoir ponderou a chance de ter um rapaz que a chamava de Dena, morando na sua casa alguns dias, ficou animada. E sua êxtase em ter um quase marido tornou-se melhor quando ele falava. Suas frase eram tão comoventes e românticas como ambíguas e maliciosas!
Uma noite, a meditar na cama, enquanto Reno dormia e Nemoir em seus braços, ela começou a pensar até em se casar. Por quê?
Nenhum dos quais ela dormiu jamais disse "minha querida Nemoir, minha amada, minha Dena".
Ou então, "eu sou seu agora, pode me dominar, me leve para passear um pouquinho".
Ou ainda, "vem aqui, minha Dena, e divirta-se comigo".
Às vezes ela sentia vertigem de todo o poder que ele dava a ela com tanta caridade!
Ao ver o rosto de um Reno dormindo, pensou que os únicos poderes que ele tinha agora eram o de viver, o de trair, e - oh, não, ele não poderia... - o de partir.
Partir! Não, Nemoir não quer isso! Jamais! Partir? Teria ela de sofrer de novo? Não, se isso acontecesse, eu me mataria no mesmo instante!
Olhou para seu rosto pacífico novamente. Não, ele a ama, ela devia estar apenas imaginando.
Mas então veio a idéia: e se ele estiver a traindo? Por que isso agora? Qual seria o sentido disso? Foi ele quem procurava parceria, senão não teria ido na festa para encontros! Foi ele quem disse que seria seu par na festa! E não podia ser outro a chamá-la de Dena!
Eis a demonstração de poder da palavra, mais especificamente a palavra "se". O poder da hipótese é muito considerável.
Considerável até demais, e isso sempre foi um fator determinante no amor.

42

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Nemoir, 15 anos. O único a aceitá-la como namorada foi Reno. Sua gratidão lhe era tão grande que começou a beijá-lo selvagemente toda vez que o via.
Às vezes, antes de fazer amor, ela queria ficar apenas nos beijos e abraços e afagos: era seu pequeno hábito de demonstrar que sentia o verdadeiro amor. Ele deixava só ficar nessa parte.
Outro ato representativo foi ele morar na casa dela, temporariamente, a pedido dela. Representou, com isso, que confiava nele, relacionando-se assim ao amor.
Ela ouviu o que mais temia dois meses depois: Reno terminou com ela.
Foi um dia horrendo daí por diante, mesmo tendo começado por uma bela manhã ensolarada e com arco-íris.
Ela já tentara suicídios antes para mantê-lo consigo. Mas este era seu ultimato. Porém, devido a certas palavras, ela se contentou com isso.
Não vou falar o que se seguiu depois ou a discussão. Não é hora.

41

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Ela, Nemoir, 8 anos. Ele, quem? Estava aqui há pouco... estava.
Foi aos 8 anos que perdeu seu pai. Era uma criança, coitada, nem podia assimilar sua falta: não mais havia um professor de vida apenas uma professora. Sua mãe, Gisel, foi grande feminista. Sempre discutia com o marido, Jovani, pois ele chegava adiantado no seu emprego da padaria que funcionava em várias tribos, e saía tarde. Ela achava que ele saía com outras, ele dizia que não e não admitia falar mais nada.
Foi aos dez anos que Nemoir quis saber com quem o pai dormia, para pelo menos saber com quem a mãe iria brigar. Ficou curiosa pois o pai nunca deu pistas de ter saído com ninguém.
Aos 11, foi procurar na padaria multinacional. É claro, tinha a chance de a vadia já ter ido embora. Mesmo assim, achou registros.
Esses registros diziam que seu pai trabalhava tempo a mais para ganhar dinheiro a mais, e com isso manter a família. A filha sempre pensou que o pai era adúltero. Ele nunca foi.
Ela mostrou esses registros para a mãe. Ela não acreditou no que a mãe estava dizendo.
- É claro que ele falsificou documentos para esconder que seu pai saía com as vadias.
- Mas o dono da padaria confirmou o registro! É autêntico! Eu mesma vi!
Nenhum argumento dela mudava a opinião da mãe. Revoltada com todo o feminismo extremista de Gisel, Nemoir saiu de casa aos treze, depois de uma terrível discussão.
Trabalhou como padeira - igual ao pai - e ganhou algum dinheiro trabalhando como a vendedora no balcão.
Quis estudar algo em especial para melhora o sistema de vida. Estudou mecânica, mas largou pela metade.
Estudou línguas, mas aprendeu apenas três, as outras eram difíceis demais.
Estudou alquimia, mas não pôde arcar com o preço alto.
Como falhou nos estudos desejados, começou a se exercitar, enquanto trabalhava numa academia. E com isso, atraía muitos para a cama. Ficara surpreendentemente bela e sensual quando estava com o corpo rijo de exercícios, e seu quadril ficara em uma medida muito boa, mas o que chamava a atenção eram suas pernas e coxas.
Ela mal sabia que estava andando lentamente em direção ao amor.
Ficou tão atraente com os exercícios que conquistava muitos. Levava-os para a cama e adorava-os como que amando enquanto entrava dentro dela e eram juntos um. A partir de então, começou a reconhecê-los como Mui.
Qual não foi a sua decepção quando cada "Mui" foi-lhe rompendo relações até passar do conhecido ao nada. Não existia mais nenhuma relação. Era menos que zero.
Ficava deprimida por um tempo, depois procurava outro que talvez pudesse amá-la. Esse estranho comportamento foi-se repetindo por um ano e meio. Até que achou um tipo de agência de encontros, um baile, onde um dos últimos com quem havia dormido participava. Ele citou um amigo que chamava as Muis de "Dena". Perguntou a ele o que significava Dena (ela não sabia: conhecia a língua, mas aquilo era gíria): era uma espécie de dama, quase como esposa.
Ela achou tão romântico e compremetedor; finalmente sairía do sofrimento da falta de relações.
Achou-o na festa; mas estava bêbado no pequeno bar que ali havia. Era sua chance.

40

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Eu, o narrador, tenho algo a dizer aos leitores: a partir de agora, o enredo voltará até o momento do começo real da história de cada um, e manterá um ritmo de tempo constante e atemporal ao mesmo tempo. Cada uma das personagens, por mais que sejam contínuos ou simples anônimos, terá alguns capítulos em que participara como protagonista, desenvolvendo um antagonista, uma pessoa que será odiada ao longo de cada capítulo.
Peço apenas uma coisa: não deixem de se entreter, amar e odiar, às vezes sendo a mesma pessoa. Não creio que tantas pessoas terão capacidade de esperar para descobrir o motivo de ter começado a história falando de um dragão que sofreu muito no passado. Mesmo assim, desejo sinceramente que tente seu melhor.
Pois, esta história é de amor e aventura, certeza e traição, dúvida e fidelidade.