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Um dia Celista deixou Reno, sem dar explicações. Isso abalou muito o pobre coitado. Pobre porque não tinha nem Marili nem Celista. Coitado pois nem ter um motivo de si mesmo tinha.
Imaginou sem vontade que tem algumas pessoas que tem o privilégio de não passar por um triângulo amoroso e começou a criar ciúmes destas pessoas. Queria ter ficado sem o triângulo. Queria ter o ponto, ou seja, a alma gêmea.
Existem cinco tipos básicos de romances.
O ponto, como já citado, corresponde ao casal verdadeiro, que tem olhos apenas para seu parceiro ou parceira. É raro acontecer, mas não se para de se ouvir essas histórias.
Existe a reta amorosa, no qual uma pessoa é o centro de amores - ou seja, a linha - entre outras duas - as extremidades.
Tem o triângulo amoroso, no qual ainda há três pessoas, mas uma ama fulano sem amar cicrano que ama fulano, ou cada uma ama as duas.
Existe o quadrado, em que ocorre o mesmo que o triângulo amoroso, apenas o fato de que são quatro pessoas.
No retângulo, há variações, pois o amor pode ser como o quadrado, exceto que pode-se cruzar o retângulo usando uma linha.
E adiante há umas quantas variações em polígonos amorosos que não irei explicar por ser ternamente desnecessário e por cansaço.
Mas qual o porquê de estar explicando todos os conjuntos? Por que todo e qualquer polígono não tem sentido algum se houver um número a mais, um resto, uma sobra, para fora do mesmo.
Este resto é o que Reno procura, é aquele algo que está fora do padrão.
E com o que acabo de vos ensinar, percebe-se que esse ponto fora do conjunto tem duas consequências: levá-lo daquele conjunto para criar uma linha, onde ele não é a linha, mas sim a extremidade; ou o ponto sobrando entra para aquele esquema.
Ele sai então para uma suposta caminhada. Encontra no caminho um antigo amigo, Micenis, e começam a conversar. A aparência de Micenis era simplória, podia-se confundí-lo com qualquer outro, se não tivesse um diploma de psiquiatria e óculos pequenos para sua vista levemente fraca.
Micenis comenta que ultimamente achou uma agência, uma entidade, que prepara festas para aproximar casais de todos povos, e que ia acontecer, convenientemente, naquela mesma noite, nos extremos da tribo dragão.
- E por que é feito tão longe?
- Longe para a gente, perto para eles, que organizam tudo. Toda vez que vou lá encontro uma maravilha de "Denas", como você dizia. Uma vez dormi com três na mesma noite! É muito bom! Ei, você ainda gosta de estrangeiras? Lembro que você só ficava com elas. Vai estar cheio de gente de todos os povos.
- Então, de todos os tipo, né...
E seguiram conversando. Pouco depois ambos se despediram, com abraços saudosos.
Micenis tinha mudado de cidade, não muito longe, mas em uma distância considerável, faz uma ano. Pela conversa, Reno descobriu que ele mudou de sotaque e agora era mais falante. Sabe, o dialeto de um psicólogo que mora na capital. Em tempos anteriores, ele era mal humorado e quieto, apenas com Reno simpatizou por sua maneira de respeitar as mulheres. Enquanto Reno conquista pelo romance, Micenis age como se fosse um bichinho dócil e frágil delas; uma hora ou outra, acaba conquistando sua confiança. Era muito útil quando ele namorava com elas, mas agora deu pra ficar com boas noites de sexo, não dá para se dizer se mudou ou não.
Reno ficou contente com o reencontro, e com a informação de que ele poderia encontrar aquele ponto à parte para se separar enfim do conjunto.
Voltou para casa e pensou em viajar para lá, naquela festa para lá do fim do mundo!
Arrumou os suprimentos necessários, trancou a casa e foi-se, voando.
Quatro horas voando realmente não lucraram. Chegou ao destino, mas ainda teve de andar em procura de informações para saber do local. Cada vez que andava, via mais gente estrangeira por ali.